LÁGRIMAS
E DESCULPAS
“E
AGORA POR QUE TE DETÉNS? LEVANTA-TE, E BATIZA-TE, E LAVA OS TEUS PECADOS,
INVOCANDO O NOME DO SENHOR.” ATOS 22:16
“PORQUE
NOUTRO TEMPO ÉREIS TREVAS, MAS AGORA SOIS LUZ NO SENHOR; ANDAI COMO FILHOS DA
LUZ.” EFÉSIOS 5:8
A morte para uma soma enorme de criaturas
no plano físico ainda é considerada um ponto final aos problemas. Na visão
dessa massa a morte resolve tudo. Como que num passe de mágica acreditam que
ela elimina, de um instante para outro, qualquer dificuldade, por mais complexa
que ela possa ser.
Consideram que morreu, acabou. O túmulo
chega mesmo a ser considerado como a representação e o repositório das últimas
esperanças. E não é apenas isso, a questão vai mais além. Muitas pessoas
acreditam serem privilegiadas da infinita bondade por haverem abraçadas
atitudes de superfície nos templos religiosos, ou se consideram credoras da
redenção celeste pela simples arregimentação de valores intelectivos. Esperam
quase que ansiosamente a morte do corpo, suplicando a transferência para os
mundos superiores tão-somente por haverem ouvido maravilhosas descrições dos
mensageiros divinos.
No entanto, meu amigo, minha amiga, não
acreditemos em comunhão com a divina majestade simplesmente porque nos façamos
cuidadosos no culto externo da religião que afeiçoamos. A passagem pelo
sepulcro por si só não nos coloca em terra milagreira, sempre nos achamos
indissoluvelmente ligados às nossas próprias obras.
Em todos os ambientes deste mundo multidões
imensas de seres humanos choram diante das mínimas contrariedades e dos menores
dissabores que a vida lhes apresenta. Pode-se dizer com muita tranquilidade que
nós humanos trazemos essa herança desde os primeiros dias da existência. É
assim que crescemos, é assim que se dá com o bebê. Se ele sente frio, fome,
sede, está sujinho de cocô ou molhado de xixi, não espera um segundo para
começar a chorar.
O choro se faz imediato ao estabelecimento
da necessidade. A plenos pulmões investe suas poucas energias no choro. Não é
assim que se dá? Chora sem economias e uma mão mágica surge de algum lugar para
satisfazer a sua singular necessidade. Muitas crescem assim. Deixam de ser
bebês, todavia, exteriorizam as suas decepções, as suas mínimas contrariedades
e os seus desgostos com choro, semblante fechado, cara de poucos amigos, porque
no fundo se consideram, ainda, aqueles bebês com as suas dificuldades
externadas. Clamam infundadamente por mãos mágicas para suprir-lhes os
caprichos.
O ponteiro do relógio gira, a gente cresce
e descobre, com decorrer do tempo, que a coisa não é tão assim. Eu não tenho
nenhuma pretensão de desapontá-lo neste início de capítulo, mas a verdade é que
a natureza não se perturba para satisfazer pontos de vista de quem quer que
seja. E mais, a aflição não resolve problemas.
Tampouco vale a chuva de lágrimas
despropositadas diante da insatisfação ou da falta cometida, pois elas não
substituem o suor que se deve verter em benefício da própria felicidade.
Quantas pessoas comumente ficam desesperadas, chateadas, frustradas e tristes
por motivos que não são tão contundentes para tal. Por qualquer motivo mais ou
menos e já começam a chorar. A criatura, às vezes, entra no quarto e se tranca
por horas ou, quem sabe, por dias, e chora sem parar. Acredita que muito da sua
vida perdeu o sentido em razão de certo acontecimento e só pensa em chorar. Aí
eu sou obrigado a repetir o que acabei de dizer agora: lágrima não substitui o
suor. Quando ela acaba de chorar, independente do tempo que durou o choro, ela
estará na mesma situação. É que a felicidade é construída com suor, não com
lágrima.
Não resta dúvida alguma que em certos
momentos nós temos mesmo que chorar, porque o choro desonera, extravasa,
desoprime. Sem contar que às vezes temos que chorar até para valorizarmos o
suor e descobrir a duras penas que o suor é que propicia. Mas em hipótese
alguma o choro pode nos paralisar.
São muitos os indivíduos que buscam o
encarceramento orgânico para fugir sem resgatar. E outros tantos que se apegam
à própria desdita como falsa justificativa para prosseguirem no sofrimento que
lhes agrada. Você já pensou nisso? Parece que gostam de sofrer. Cultuam o
sofrimento e sentem velado prazer nisso. Se analisarmos a questão, enquanto
sofrem, ou pelo menos alimentam e se apegam ao sofrimento, sentem-se
desonerados de certos compromissos para com a própria vida. Sem falar no outro
grupo que sofre e realmente busca auxílio, só que engana-se quem pensa que quer
o progresso. Esses não querem o progresso. Querem livrar-se da doença e dos
problemas, mas não querem curar-se. Pode-se dizer que buscam fazer quando
melhorarem as mesmas coisas que faziam antes do estabelecimento da dificuldade.
Nada mais.
É importante fazermos um balanço pessoal
vez por outra acerca das horas gastas com lamentações prejudiciais. Com certeza
não são poucas. O desculpismo sempre foi a porta de escape dos que abandonam as
próprias obrigações.
Muitos não querem fazer contato com as
dificuldades e vão arrumando desculpas. É desculpa para todo o tipo e todo o
gosto. E o pior de tudo, são tantas as evasivas, e tão veementes aparecem, que
os ouvintes mais argutos terminam-se convencidos de que se encontram à frente
de grandes sofredores ou de criaturas francamente incapazes, passando até mesmo
a sustentá-las na fuga. Porém, uma coisa é certa, é inútil ficar assentado
lamentando-se dos infortúnios, sejam eles reais ou imaginários. Não se pode
fugir do ego infeliz. Não se pode escapar dos problemas e das obrigações
indefinidamente, logo, não te percas desse modo na lamentação indébita.
Multidões de convidados para a lavoura da luz, engodados de si próprios acordam
para a verdade em momento tardio, atados às ruinosas consequências da própria
leviandade, e não encontram outra providência senão a de esperarem por
reencarnações outras.
Que tal aprendermos uma coisa juntos agora?
Aprender, guardar e levar conosco daqui para a frente. A inércia é uma ilusão,
o tédio é deserção e a preguiça é fuga que a lei pune com as aflições da
retaguarda, pois o progresso é um comboio de rodas infatigáveis que releva para
trás todos os que se rebelam contra os imperativos da frente. Acontece de
quando fincamos o pé nos aspectos da retaguarda não estarmos querendo enxergar
a realidade do progresso.
É certo que todos nós atravessamos obscuros
labirintos antes de atingirmos adequado roteiro espiritual, e em múltiplas
circunstâncias erros e enganos múltiplos nos povoaram a mente com remorsos e
arrependimentos, mas isso não deve justificar o choro estanque. Vamos parar de
moleza e deixemos de alegar tropeços e culpas, inibições e defeitos para a fuga
das responsabilidades que nos competem.
Não aleguemos
fraqueza, inaptidão, desalento ou penúria para desistirmos do lugar que nos
cabe no edifício do bem. Até ontem podíamos ter estado em trevas, achando-nos
na condição do viajante que jornadeia circulado de sombras, tropeçando aqui e
ali, sem o preciso discernimento. Mas hoje, que tudo se faz claro em derredor,
fujamos de dramatizar desencantos e fixar desacertos, queixas e recriminações
que complicam e desajudam, ao invés de simplificar e ajudar.
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