ENTENDENDO
O SOFRIMENTO
Todos nós, sem distinção alguma, fomos
criados para a perfeição, e quanto a isto acho que ninguém tem dúvida.
O conhecimento espiritual, em seu aspecto
mais profundo, nos induz à reformulação da ideia que temos acerca do
sofrimento. A sabedoria divina não deixa margem à inutilidade, razão pela qual
nada existe sem uma razão de ser, nada existe que não tenha significação. A lei universal é muita clara e não deixa a
menor dúvida: não existe efeito sem causa. Os efeitos que ocorrem em nossa vida
são reflexos de ações positivas ou de ações menos felizes que praticamos em
um passado mais próximo ou mais distante. Vamos erradicar de uma vez esse
conceito de que em muitas situações de sofrimento nós somos vítimas, e vamos
parar de ficar julgando o sofrimento como sendo um mal.
O planeta Terra não é uma escola pronta,
acabada, finalística e, sim, uma escola de aperfeiçoamento, e no trabalho de
redenção, seja ele de natureza individual ou coletiva, a dor é sempre aquele
elemento amigo e indispensável, oportunidade extraordinária concedida por Deus
às criaturas em todos os tempos.
O divino criador, em sua sabedoria
magnânima, permite que na jornada evolutiva escolhamos o nosso próprio caminho
e até mesmo que, por mau uso do livre-arbítrio, façamos incursões menos felizes
nas estradas largas e escolhas equivocadas, quando a dor é convocada à tarefa
de nos reconduzir ao equilíbrio. Em outras palavras, quando usamos mal as
prerrogativas de ação que a liberdade de escolha nos faculta saímos daquela linha de espontaneidade e entramos na linha compulsória. Porque as menores
quedas e as mínimas viciações ficam impressas na alma, exigindo retificação,
logo, vamos entender que se não há efeito sem causa ninguém sofre sem merecer e
o sofrimento é criação do próprio homem, ajudando-o esclarecer-se para a vida
mais alta.
Chega de maldizer o sofrimento. Por nossa
rejeição à opção do amor ele é mecanismo que ainda necessitamos para
restabelecer o equilíbrio. A vida impõem a muitos o mecanismo redentor do qual
necessitarão amanhã para selecionar com sabedoria aquilo que lhes é útil, em
detrimento do pernicioso. Como resposta que a ignorância conduz aos desatentos,
e também como lapidadora das arestas morais, o sofrimento é elemento indutor da
não acomodação, ou seja, não deixa a criatura acomodar-se. Componente favorável
à evolução, ele visa sempre o despertar da alma para os seus deveres.
Logo, sofremos por necessidade em favor de
nós mesmos e não se pode desconsiderar a dor que instrui e ajuda a transformar
o homem para o bem. Ele é útil, providencial e traz consigo a oportunidade de
redenção, uma vez que objetiva nos conduzir a um processo de reflexão.
Importante para o nosso despertamento, colabora no sentido de sairmos da morte
do erro para as alegrias da imortalidade gloriosa. Repare uma coisa, o caminho
evolutivo está sempre repleto de aguilhões e de outro modo não enxergaríamos a
porta libertadora.
A dor é processo de sublimação que o mundo
maior nos oferece para que a nossa visão espiritual seja acrescida e muitas
vezes é lâmpada maravilhosa. As dificuldades tem feito papel de condutor dos
nossos corações para as fontes de luz. O sofrimento, a inquietude e a
frustração visam despertar a consciência para novas bases e novos patamares. Lágrimas
purificam e dores corrigem. Você consegue imaginar o que seria das criaturas
terrestres sem as moléstias que lhes apodrecem a vaidade? até onde poderiam ir
o orgulho e o personalismo humanos sem a constante ameaça da carne frágil? o
que seria de nós se o sofrimento não nos ajudasse a sentir e raciocinar para o
bem? Lembra do diamante? Ele não é lapidado com pétalas de rosas. Por isso, ao
rejeitarmos a opção de evoluirmos pelo amor a dor nos visita como a nos dizer
acorda. Ela define um caminho complicado da dor, sim, mas a ser trabalhado pela
falta de amor.
O sofrimento apresenta em si, na
essencialidade, aspectos mais morais do que necessariamente físicos, de forma que
didaticamente podemos classificá-lo sob o aspecto físico e espiritual. A dor
moral é a essência, o sofrimento do espírito é a dor real e somente a dor
espiritual é grande e profunda o suficiente para promover o trabalho de
aperfeiçoamento e redenção. O sofrimento físico, por sua vez,
a dor física, independente de qual seja, é um fenômeno.
Mas o importante é que temos que ter um
respeito grande ao falar de quem sofre, porque quando se trata de alguém que
está sofrendo nós não podemos medir até onde esse sofrimento vai. Temos que
cultivar uma ótica abrangente no trato com as pessoas. Só quem já viveu
determinados tipos de provas e de problemas é que vai entender com
autenticidade e grandeza a dificuldade do semelhante. Às vezes, um problema de
alguém é visto por nós como uma besteira, uma coisinha à toa, mas só passando
pela prova é que notamos que não é bem assim.
Se o sofrimento tem cunho de natureza intrínseca,
é importante a gente retificar essa ideia fechada que trazemos acerca dos que
sofrem. De um modo geral, apenas enxergamos os que tem deficiências
físicas, os que perderam o equilíbrio corporal e aqueles que se arrastam no
solo com defeitos escabrosos.
Mas desconsideramos que o paciente com
dificuldades numa cama de hospital, o idoso abandonado no asilo e a criança
desnuda e faminta perambulando pela rua são parcelas de sofredores que
extensivamente estão se mostrando aos nossos olhos. Sabe porquê? Porque em nosso
círculo de ação, na intimidade dos lares de nossos parentes ou de pessoas próximas
a nós, e dentro da nossa própria casa, tem sofredores também. Pois cada
criatura tem o seu enigma, a sua necessidade e a sua dor. Sem contar que não
possuímos visão suficiente para identificarmos os doentes dos espírito, os
coxos do pensamento, os deformados do sentimento, os combalidos da alma e os aniquilados
de coração.
O sofrimento pode
apresentar finalidades distintas para indivíduos debaixo de um mesmo quadro.
Nós podemos perfeitamente ter duas criaturas debaixo de mesma sintomatologia,
de um mesmo diagnóstico, mas sob causas diferentes. Está entendendo? O
sofrimento para um pode ter o objetivo de despertar, ao passo que para o outro
pode ser fazer pagar, quitar. Percebeu? No caso do despertar o papel da
respectiva dificuldade é projetar o ser. Isto é, a criatura se projeta e sara,
restabelece-se. Sua entrada num terreno novo por si só propicia o saneamento do
processo. Por outro lado, quando a questão é pagar a situação fica um pouco
mais complexa, a criatura tem que respaldar com calma e tranquilidade a sua
própria dificuldade. Aí não adianta chorar, espernear, esbravejar, gritar,
fechar a cara e revoltar-se. Aquele que semeou de forma menos feliz lá atrás
tem que se contentar com paciência no regime da colheita.
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