É
PRECISO SABER SOFRER I
“E, INDO UM POUCO MAIS PARA DIANTE,
PROSTROU-SE SOBRE O SEU ROSTO, ORANDO E DIZENDO: MEU PAI, SE É POSSÍVEL, PASSE
DE MIM ESTE CÁLICE; TODAVIA, NÃO SEJA COMO EU QUERO, MAS COMO TU QUERES.” MATEUS 26:39
“E, TOMANDO O CÁLICE, E DANDO GRAÇAS,
DEU-LHO, DIZENDO: BEBEI DELE TODOS;” MATEUS 26:27
“DIZENDO: PAI, SE QUERES, PASSA DE MIM
ESTE CÁLICE; TODAVIA NÃO SE FAÇA A MINHA VONTADE, MAS A TUA.” LUCAS 22:42
Quem disse que sofrer é fácil? Até Jesus
sofreu. Para início de conversa, renunciou o esplendor do céu para acomodar-se
à sombra terrestre na estrebaria. Auxiliou sem pagamento e serviu sem
recompensa. Experimentou a incompreensão de sua época e padeceu a desconfiança
até dos mais amados. E depois de oferecer sublime espetáculo de abnegação e
grandeza foi içado ao madeiro como se fosse um malfeitor comum. Como se vê,
motivos de sobra ele tinha para se decepcionar, no entanto, não o fez. Pelo
contrário, perdoou os verdugos, esqueceu todas as ofensas recebidas e voltou do
túmulo para ajudar. É que na sua lógica, acima de todas as coisas
brilham os valores eternos do espírito.
Note que todos os seus companheiros de
ministério, restaurados na confiança, testemunharam a boa nova atravessando
dificuldades e lutas, martírios e flagelações. E quando o mestre disse:
"Se possível afasta de mim este cálice, mas não seja feita a minha
vontade, mas a tua" nós temos a presença de uma das coisas mais lindas que
se tem no evangelho.
Ele mesmo, na fidelidade a Deus, foi também
constrangido a dizer: "Pai, não se faça a minha vontade, mas a tua."
Ou seja, se possível que fosse tirada a dor porque ele não estava gostando
dela, mas também se não fosse possível que acontecesse aquilo que tivesse de ser. Se fosse
preciso continuar, que continuasse. Nós temos de pensar assim, exercer essa
capacidade maior de renúncia e persistência, pois do contrário perdemos a grande luta
da reeducação.
O mestre não rejeitou o cálice. E quando
falou "se possível afasta de mim este cálice", o que ele ensinou para
nós? Que não devemos ficar de cabeça baixa, entristecidos, aumentando o peso da
dificuldade com os nossos sentimentos turvos e lamentações indevidas. Isso não condiz com o crescimento. Pelo
contrário, passa longe dele.
Então, sem essa de ficarmos com aquele pensamento de
"eu estou aqui pronto para sofrer". Tem gente que diz assim:
"Ah, tem quatro dias que eu estou com uma dor de cabeça danada, mas uma
coisa eu tenho comigo, não tomo comprimido. Não tomo mesmo." O que podemos
depreender de uma postura dessa? É uma austeridade muito grande, uma rigidez
tremenda, exagerada. Quer dizer, às vezes a pessoa, por meio de uma atitude dessa, nem
sente a alegria de conversar com um filho, não sente o prazer de fazer um
almoço, não tem a alegria de ir para o trabalho. Agora, não quer dizer, também,
que a pessoa tem que tomar o comprimido logo que surja o sintoma. Vamos devagar
e analisar com tranquilidade, não é isso que eu estou falando. E aquelas
pessoas que nós conhecemos, que por sua vez ficam envoltas na ideia de que
estão sofrendo muito hoje porque devem ter aprontado lá no passado, estas estão
ainda muito presas à retaguarda dos acontecimentos da própria vida.
O sofrimento é importante na nossa vida, mas
nem por isso nós vamos adotar um sistema masoquista em que temos que nos curvar
a ele. Não vamos ficar nessa de nos entregar aos testemunhos de maneira
passiva. Não compliquemos mais a situação com tristeza e desânimo, revolta e
agressividade.
Se possível, vamos tirar mesmo. Vamos usar o valor ou o
componente que o reconforto puder nos oferecer para tirarmos, se possível, o
sobrepeso da dor, da decepção, da dificuldade. É necessário que a gente pare de
lamentar e passe a reclamar cada vez menos.
Temos que guardar o seguinte: enquanto
estivermos reclamando das dificuldades nós ainda permanecemos em pleno apogeu
vibracional que alimenta a causa na retaguarda. Portanto, vamos encarar desde já
os acontecimentos com determinação e não ficar nessa de vivenciá-los com o
semblante fechado e aquele estigma pesado e frio de quem está pagando, pagando
e pagando. Na nossa luta de melhoria é preciso não sermos coniventes com o
sofrimento. Mais do que preciso, é fundamental. E não sermos coniventes quer
dizer não ficarmos abraçando o sofrimento como uma graça que tem que existir em
nossa vida.
Não, de forma alguma. Vamos mudar o disco, entrar noutra faixa. Quem se entrega ao
sofrimento de maneira passiva está sendo derrotado. Evite, definitivamente,
curvar-se ao sofrimento, pois aquele que se curva ao sofrimento de maneira
passiva está entregando os pontos, ao contrário de vencer está como que sendo vencido.
Ninguém gosta de sofrer. Claro, afinal sofrimento é
sinônimo de angústia, aflição e amargura. De certa forma, ele define a rebeldia
nossa contra a dor. Não deixa de ser uma opção pessoal, face à vigência do
grande amor que nos felicita e aguarda em todo lugar, pois a verdade é que
possibilidade de não sofrer nós já temos. Então, é preciso definir até quando
vamos sofrer. Isso mesmo, eu não estou exagerando, o espírito não foi criado por
Deus para sofrer.
De qualquer maneira, vamos saber decifrar as
mensagens que a vida nos envia tantas vezes em códigos. Vamos adotar a atitude
para fazermos os problemas ficarem equacionados. Inicialmente, sem os
valorizarmos demais. Para isso, sejamos seguros, procurando administrar o
sofrimento quando ele chega. Temos que levantar a cabeça, procurar medicamento
para tomar, se necessário, buscar a solução para superar as dificuldades. Isto
faz parte da engrenagem da auto-estima no seu sentido positivo e natural. É o
cultivo nosso do direito de ser feliz e do direito de podermos resguardar a
nossa intimidade. Em outras palavras, vamos viver no sofrimento, sim, mas sem
sofrer. E, com certeza, no dia em que isso acontecer estaremos dando vôos amplos
para a libertação.
A vida é muito mais sábia do que nós e
devemos aceitá-la conforme se nos apresenta, embora precisamos nos esforçar
sempre para melhorá-la. O sofrimento, vamos entender que ele é endereçado mais às
aniquilações do homem velho. Está dando para acompanhar? Podemos dizer que ele
é um sofrimento que não tem aquele sentido finalístico de abater e derrubar. Ou
seja, é aquele sofrimento que a pedra sofre para transformar-se numa peça escultural. Deu para entender agora? Tem aquele sentido lapidador, de burilar o ser.
Da mesma forma que vamos buscar as origens
dos males de hoje no passado, é justo pensemos na felicidade em termos de
amanhã, considerando o presente como uma ponte entre dois períodos, e não
apenas como uma situação única. Conclusão: ninguém se queixe inutilmente, e
tampouco se entregue ao pessimismo em circunstância alguma. As mais diversas
situações do cotidiano, embora nem sempre possa parecer, expressam a vinda de
momento adequado para que venhamos realizar o melhor. A dor em nossa vida
íntima é como o arado em terra inculta, que rasgando e ferindo oferece os
melhores recursos à produção. Lembre-se que é da terra sulcada pela enxada que
saem os trigais abençoados para o pão, e que o calvário e a cruz indicam o sinal da ressurreição. Mesmo que não entendas de imediato os desígnios da providência
divina, esforça-te um pouco mais para receber a provação que chega como sendo o melhor
que merece hoje em favor do amanhã.
Uma coisa a gente tem que ter em conta: não
podemos querer resolver problemas que às vezes ainda estão em curso de
saneamento em um lance de sabedoria ou intuição acentuadamente feliz. Sabe por
quê? Porque a solução de um problema exige sempre o tempo que a sua gravidade
impõe. Vamos tentar clarear. Pode ter acontecido de lá atrás, por
exemplo, nós termos criado uma dificuldade cármica e essa dificuldade, por sua
vez, apresentou o coroamento em um período tal. Bem, não significa que vamos
gastar na limpeza cármica o período equivalente ao seu coroamento, mas por
outro lado nós teremos certas lutas e dificuldades que não poderão ser tiradas
em dois ou três dias. Deu uma ideia? E independente da
perturbação que nos alcançar, a paciência e a serenidade em nós
propicia, por sua vez, uma segurança também nos outros.
Tem momentos no sofrimento moral em que as
dificuldades são tão contundentes que chegam até a amargar a boca.
Estou falando é no sentido químico mesmo. A gente chega até a lembrar de quando Jesus recebeu na ponta daquela haste o fel.
E pelo que nós temos aprendido, quanto mais
espinhosa esteja a luta, quanto mais difíceis os momentos,
quanto maior a conturbação, em que os espinhos estão nos machucando, essa é a
hora em que os nossos benfeitores espirituais estão mais próximos da gente.
Examinando e orando para nós não fazermos besteira. E ficam dizendo, embora não
ouçamos literalmente, para que tenhamos calma porque estamos amparados.
Uma coisa é certa, se pararmos para pensar vamos notar
que nós damos um trabalho grande para os nossos amigos espirituais. Eles ficam orando e intuindo de lá e nós criamos resistência de cá. Não há dúvida que em certas ocasiões temos que chorar sozinho, lavar as lágrimas, secá-las e sorrir no ambiente em que estamos presentes, porque é por aí que nós
fazemos aquela linha vibracional de sustentação e equilíbrio.
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