A
FORÇA DO AUTOMATISMO II
Existem parcelas em nossa intimidade que
formam um bloco de condução de nossa vida, que apresenta forma atuante e
preponderante. Não sei se ficou claro, mas nós temos aspectos em nossa vida que
lideram nossas atitudes e que a gente até custa a dar conta disso.
E na maioria dos casos esses reflexos se
instauraram sabe como? Pela repetição de maneira simplória. Às vezes, uma mesma
tônica durante muito tempo.
Por exemplo, não pode acontecer de alguém passar
uma encarnação inteira pensando em um certo acontecimento, dando grande ênfase
a uma situação? Cada hora que ele pensa naquele fato ele cria um sulco leve na
sua casa mental. Uma vez, duas vezes, quatro, uma enormidade de vezes naquele
assunto. Perfeito? Com o passar do tempo esse componente adota o modo
automático. E ele pode, inclusive, começar a ver tudo à sua frente em função
dessa ótica ou prisma.
Às vezes, é uma faceta dessa soma de desejos
e de padrões que domina, razão pela qual nós temos que descobrir onde está o
fator ou os fatores indutores das nossas ações.
Porque quando a gente pega essa
liderança nós podemos trabalhar com ela e até mesmo tirar um líder e colocar
outro. Deu para entender o sentido, o que eu estou querendo dizer? É quando nós identificamos o fator
preponderante e colocamos um outro como sendo o novo condutor do carro da nossa
evolução. Então, viver bem pressupõe reconhecer nossas imperfeições e estar em constante
luta para superar os nossos problemas, usando de paciência nas terapias das
marcas que nós trazemos, das cicatrizes ou das chagas que podemos ter ainda
abertas.
Vale observar que adotando essa postura a
gente vive melhor, a gente supera as dificuldades com mais segurança e erra menos. E errando menos
passamos a ter mais direitos no campo do usufruto do bem e da alegria, saindo,
inclusive, das posições em que nos mantemos para o acesso efetivo a posições
melhores.
E, se por acaso, em decorrência desses
reflexos nós atuamos de maneira automática, vamos ter que usar a capacidade
dedutiva e trabalhar com equilíbrio e discernimento para que esse automatismo
milenar não roube nossas melhores propostas nascidas com o conhecimento
assimilado a nível informativo.
É imperioso avaliar com atenção, porque é
nessas minúcias que costumamos nos conhecer.
Para que essas propostas novas que
definimos com segurança e fé, e que são capazes de propiciar mudança, para que
elas possam se tornar automáticas, elas precisam ser aplicadas de forma
gradativa e constante no que diz respeito à chamada atividade mantenedora consciente. Em
outras palavras, é o somatório do mínimo a cada instante que consolida o
condicionamento dentro de nós.
O campo íntimo é um ponto acolhedor, é um
vaso receptivo, e a cada momento nós implementamos em nossa intimidade novos
valores. E o mais interessante é que essas novas expressões recebidas, se
alimentadas e realimentadas, vão acabar se incluindo em um processo natural reflexivo
de cada momento.
Dessa forma, os reflexos que estavam
presentes em nós começam a perder autoridade, embora não sejam extirpados, e o
componente novo que chegou, inicialmente pela informação, passa a incorporar o terreno,
passa a ser o nosso valor, o nosso reflexo. Deu uma ideia processo? Aí, o
padrão antigo fica desativado, inoperante. O que define que mudança dessa ordem
depende da gente.
E, inclusive, nós é que vamos dar campo ou não para que os componentes que até
então vigoravam venham novamente à tona.
Por isso, vale um lembrete para cada um de
nós da maior importância: quem quiser desativar reflexos incomodatícios, menos
felizes, que se esforce para instaurar outros mais seguros e positivos, capazes
de preponderar no plano das manifestações do dia a dia acima daquela imagem
anterior, daquela sombra que vem nos acompanhando durante longos caminhos. Nós
captamos a verdade de cima e essa verdade se transforma em vida quando
continuadamente aplicamos esses valores novos em nossa personalidade. Logo, temos
que investir no ponto capaz de criar o registro interior dentro da intimidade
ao nível de reflexo, temos que testemunhar de maneira mais nítida e mais decisiva se quisermos conquistar.
É por essa metodologia que saímos debaixo
da tutela dos reflexos dominantes para nos situar debaixo da tutela de um
dispositivo bem diferente no campo do comando, no campo da indicativa de nossas
ações. O começo a gente sabe bem, não é fácil. Até pelo contrário, quando
resolvemos adotar um sistema novo de vida é muito comum a gente viver um certo
tipo de desconforto e de angústia. E, se dermos campo a essa angústia, ela pode
tomar conta do nosso eu e até mesmo se transformar em uma inconformação profunda.
Agora, se alimentarmos e realimentarmos a proposta nova mediante a linha
operacional diária, aí damos novo rumo à nossa trajetória e a angústia se
transforma em harmonia e paz. Como na parábola do joio e do trigo: a questão é
continuar a semeadura.
E repare que na medida em que nós vamos
investindo na realização da proposta, que nós vamos adentrando no plano
aplicativo da ideia, a ação adotada passa a se manifestar de forma normal e
contínua. Não é necessário mais ficar alimentando o processo pelo consciente, o
mecanismo passa a ser alimentado e realimentado pelo próprio impulso interior.
Agora, preste atenção, não quer dizer que a ação vai se tornar inconsciente.
Não, não é isso. Apenas ocorre que a sistemática se torna automática, passamos
a trabalhar de maneira continuada.
Vamos a dois exemplos para clarear. Sabe quando desligamos o carro, saímos dele, fechamos
a porta e acionamos o alarme, sem pensar? Essa é uma situação. De tanto fazermos
conscientemente a ação de acionar o alarme, isso passa a ser automático pela
repetição. Não precisamos mais pensar "tenho que ligar o alarme".
Outra situação é nossa ação no campo do
bem. Por enquanto, muito da nossa caridade é laborada mentalmente. A gente
pensa, analisa e pondera: "Vou lá, vou fazer assim, vou ajudar, vou fazer daquele
jeito, e tal..." E enquanto pensamos se fazemos ou não fazemos, sabe o que
pode acontecer? Um outro já pulou na nossa frente e fez. Percebeu? E ele foi movido por
quê? Por uma questão acentuadamente automática do psiquismo dele. Ele já não
precisa pensar tanto, já é coisa natural pra ele. Ele já sente aquilo, não
labora intelectivamente.
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